Observei, nas ruas de São Paulo, uma quantidade imensa de ônibus indo para o Campo Limpo. Nossa, lá deve ser imenso! E é mesmo! Com uma antiga colega da Faculdade, a Silvana, fui até lá  para ver o que atraía tanta gente.
Dizem que ali era uma antiga chácara do Jockey Clube de São Paulo, mas  também  pode ter sido a Fazenda Pombinhos. O certo é que muitas colônias de imigrantes japoneses, italianos e portugueses  lá se estabeleceram, por volta de  1937. A energia elétrica chegou em 1958, e a primeira linha de ônibus em 1963.

Terminal do Campo Limpo

A partir dos anos ’60 houve uma grande migração das regiões  Nordeste e Sul do país, e do interior de São Paulo e lá se estabeleceram várias  indústrias, como a Poliquima, uma indústria química bem importante, do meu tio xará, meu tocaio, Renato Oliva e seus sócios, os americanos Frank Ryan e Paul Flynn .Foi uma indústria bem importante,  que foi vendida para a holandesa Akso Nobel em 1980.

Igreja Evangélica

Os grandes centros comerciais e escritórios, que se estabeleceram  na região da Marginal Pinheiros e Morumbi, atraíram uma classe média que  foi se formando  a partir dos anos ‘90 .Para os profissionais  dessas firmas e para paulistanos em busca de imóveis mais baratos, foram construídos condomínios para esse perfil de moradores.
Hoje, o Campo Limpo tem uma estrutura completa: Hospitais, Metrô, Sesc muitas escolas estruturadas, Terminal de ônibus e um grande comércio de varejo.
Encontrei  lá, nas minhas andanças pelo bairro, uma construção bem grande, escrito “Arrastão” ,  uma instituição sem fins lucrativos. Logo me lembrei da tia Ceição, mãe da minha amicíssima amiga na adolescência, Marta, que é uma talentosíssima artesã , cujos trabalhos têxteis são mostrados até em exposições internacionais.
Conceição Rodrigues Meyer, a tia Ceição, fez parte das voluntárias do início do Projeto Arrastão, cuja missão  era e é, formar cidadãos capazes de transformar a realidade, através de ações sociais . Formaram um grupo de trabalhos manuais, costura  e artesanato, para  mulheres do bairro. Os tapetes arraiolos foram famosos! Com uma dinâmica moderna até hoje, a “roda de conversa” , proporcionava  para que muitos assuntos relevantes fossem abordados. Saúde da família,  relacionamentos com companheiros e sexualidade. Ela tinha muita facilidade de comunicação com as mulheres, e aproveitava a oportunidade  sempre dividir   e debater boas ideias. Um dia uma dessas mulheres disse para ela, que ela falava muito bonito, mas… que ela não entendia nada!

Viela

Em 1998, o “bastão” dessa organização bem consolidada foi passado para Vera Masagão Ribeiro, que, com sua personalidade voltada às novidades do mundo, priorizou ,um projeto contemporâneo . Através de  sua direção    foram feitas  mudanças no foco dos trabalhos manuais e principalmente investimentos nas  áreas  de infraestrutura  do equipamento e também em  laboratório de informática, biblioteca , brinquedoteca , reforço de educação  entre outros. .Os cursos de empreendedorismo, como o de  gastronomia, corte e costura, modelagem, sapataria ,artes e T.I, tem sua importância destacada.
Hoje, são ativos,  no “Arrastão”, o Programa de Desenvolvimento Comunitário e os programas  pedagógicos : Educação Infantil, Centro da Criança e do Adolescente, Programa de Formação de Jovens e Programa de Empreende- dorismo e Geração de Renda. Estes Programas atendem diariamente 1.000 pessoas em sua sede.  O Projeto Arrastão , tem , assim, um papel importantíssimo para o Campo Limpo.
ODica da tia Ceição para um cafezinho bem gostoso. Se você quiser esquentar um café já feito, esquente-o em banho-maria e depois de colocá-lo na xícara, pingue uma gotinha de água fria bem no meio da bebida. Fica ótimo e sem gosto de requentado!
No Campo Limpo nasceu, em 1975, o artista Eduardo Kobra.  Reconhecido muralista nos 5 continentes, começou a desenhar em muros, sempre clandestino. Nos anos 1990, trabalhou fazendo cartazes, pintando cenários de brinquedos e criando imagens decorativas para eventos. Este trabalho  abriu portas para outros, em empresas e escritórios  de publicidade.
Kobra se tornou um grande pesquisador de imagens históricas a partir do “Muro das Memórias”, onde usou fotos antigas da cidade de São Paulo, reproduzindo-as nas ruas, em branco e preto e  em sépia, num estilo grafitti, completamente diferente do que se fazia na época. Em muros gigantescos  ficava clara a importância dos lugares e  de sua ligação com seus moradores.

Em um ônibus, entre dia 27 de agosto ao dia 8 de setembro deste ano, Eduardo Kobra montou uma exposição com seus trabalhos, devidamente dimensionados , e percorreu vários bairros de periferia. Começou no Campo Limpo, em frente ao Projeto Arrastão.  No dia da Vila Madalena o ônibus estacionou em frente a um mural do Kobra.  Eu vi e levei um susto: ” É o Lula!” Um turista americano retrucou:” It’s not Lula. It’s a Brazilian famous singer!” Olhei bem e reconheci: Tom Zé ! E não é que são parecidos ?!

Este artista maravilhoso mora em São Paulo.
Este é o Campo Limpo!

Aqui está um filme bem curtinho sobre o Kobra e sua exposição. Vale a pena ver!