Minha tia Clélia tinha uma casa na r. Iguatemi, e ela suspeitava que seus inquilinos faziam parte do Shindô Renmei, ( “Liga do Caminho dos Súditos”), um grupo de imigrantes japoneses que não acreditava que o Japão tinha perdido a guerra.
A imigração japonesa, assim como muitas outras, não foi feita de uma única vez. Aos poucos, desde o começo do século XX, grupos muito diferentes foram chegando: tinha gente com dinheiro, gente sem dinheiro, endividados, com famílias , pessoas sozinhas. Uma dessas famílias chegou em Santos, subiu a serra e foi se estabelecer em um terreno comprado em Marsilac, região bem ao sul do município de São Paulo. Quando chegou lá o grupo viu que tinha sido enganado e que a terra já tinha dono. A familia, então, ficou sem saber o que fazer! Porém alguns vizinhos ,“ os alemães”, mostraram à família uma gleba disponível ali perto. Era um matagal tão fechado que até tinha índio morando lá, mas cada galho e cada folha foram aproveitados.Foi construída, ali , uma carvoaria ,que deu tão certo , que com o lucro,a família pode ir para São Paulo, mais precisamente para a Liberdade .Lá foi montada uma pensão onde moravam japoneses ,muitos deles que tinham deixado a lavoura do interior de São Paulo e pretendiam empreender na cidade. A grande meta dos pais das famílias, era oferecer estudo de qualidade para seus filhos, em escolas japonesas e que também pudessem manter viva a cultura japonesa. Estavam se preparando para a volta ao Japão. Nesse meio tempo, a família fundou o jornal Shimbum.( Jornal) cujo objetivo era informar a comunidade japonesa do que estava acontecendo na cidade e no Brasil. Por saber a importância de pertencer ao lugar em que se está, a primeira edição do jornal foi a reprodução da Constituição de Brasil. Não poderia ser mais assertiva!
Começa, então a guerra, a 2ª Guerra , terrível! Getúlio Vargas , um ditador cruel, proibiu todos os imigrantes japoneses, italianos e alemães de falar sua língua materna. Eram impedidos de se reunir em qualquer situação e as escolas foram fechadas. Os imigrantes foram brutalmente reprimidos. A família , então se dividiu: parte foi para Santo Amaro, parte para a Vila Mariana e parte voltou para a carvoaria, que continuava funcionando. Quando a guerra acabou, a vida voltou a ser o que era antes: a pensão, as escolas das crianças e aí, sim, eles estavam se enraizando no Brasil e já ia longe a ideia de voltar para o Japão.
A rendição do Japão na II Guerra marcou demais a comunidade japonesa Muitos japoneses não acreditavam que o Japão tinha perdido a guerra. Afinal, sendo o imperador Hiroito uma divindade, seria impossível perder uma guerra e afinal de contas, o Japão havia sido vencedor por 2.600 anos!
Foi nesse clima que o Shindô Renmei, grupo nacionalista ,já formado em 1942, aprofundou seus ideais , tornando-se um grupo de fanáticos e assassinos.
Triunfalistas, (Kachigumi) não acreditavam nas notícias sobre a derrota do Japão e achavam que tudo era propaganda dos Estados Unidos. E começaram a matar os japoneses que admitissem o fracasso na guerra (Makegumi). Com dinheiro de patrocinadores , publicavam notícias falsas ( fake news?) que confundiam o público. Eram terroristas matavam “inimigos” incendiavam casas e aterrorizaram todo o Estado de São Paulo, onde deixaram mortos e muito feridos. Depois de 1946 foram presos cerca de 30 mil de pessoas e o grupo foi se acabando.
O amor à pátria se manifestou, nesta época, de várias formas: negativas e maldosas, como os Shindô Renmei e de uma forma positiva como os japoneses que imigraram e fizeram do Brasil sua pátria, construíram uma comunidade produtiva e rica, contribuíram com o desenvolvimento de uma nação, no início com seu trabalho duro e agora, com seus filhos bem criados, continuam oferecendo grandes profissionais, em todas as áreas como médicos, engenheiros , jornalistas , especialistas em informática e muitas, muitas outras profissões.
Arigatô a todos vocês!
Arigatô Sakura, a bela flor de cerejeira!
Arigatô Miriam, linda descendente da raça!