Tinha uma escola municipal na fazenda. Os alunos eram as crianças que moravam na colônia e algumas que moravam nas fazendas vizinhas.
As casas estão bem velhinhas…
A colônia era uma fileira de 40 casas, onde as famílias moravam, já que trabalhavam na lavoura da fazenda. Na época era café. Que coisa linda: eram pés enormes, enfileirados no meio dos carreadores em curva de nível. Cada casa era uma família, com características pessoais. Pelas crianças podia-se ver como era a família: os que tinham uma boa alimentação, completada por carne de frango, ovos legumes e verduras, todas tiradas da horta e quintal. Eram coradas, bem vestidas e o material escolar era limpo. Porém muitos não cultivavam nada, comendo apenas mortadela e linguiça que ficavam penduradas na janela, para curtir. Até a madeira de cercado era arrancado para fazer fogo para o fogão. Vinham com o nariz escorrendo, sujos e sonolentos.
Morar na colônia não era tão ruim, disse-me uma amiga que morava lá: “ A gente não precisa procura parceiro, porque em 40 casas não é possível não ter gente bacana.” Ela se casou com um vizinho e quando teve filhos, os levava para a roça, punha as crianças no carreador, e todo mundo ajudava a tomar conta.
Era uma vida difícil, sem água corrente, chão de terra. Mas a comunidade se virava.
Esse tipo de economia agrícola deixou de fazer sentido tempos depois, quando as famílias saíram da fazenda e foram morar na cidade. É a evolução, os trabalhadores tiveram mais autonomia e liberdade.
A escola da fazenda era, no começo da colônia, e as crianças vinham andando lá de cima, cedinho.
As idades eram diversas. Eram 3 séries: a 1ª, a 2ª e a 3ª, todas na mesma classe e no mesmo horário. Eram agrupadas por nível, não por fileiras.D. Inês, a professora, se desdobrava para preparar o material para as três classes, e dar aulas para os três níveis diferentes, que tinham interesses diversos, nível de atenção também diferente. Naquela época não tinha televisão e muito menos internet. A professora fazia cartazes com figuras de mar, de planetas e toda espécie de assuntos que pudessem inspirar interesse e para que eles também se iniciassem em assuntos científicos. Para cópias, usava-se papel carbono. Tinha também um mimeógrafo, que fazia cópias com cheiro de álcool.
D.Inês dava em cima, mas como é difícil mudar mentalidades! Ela fazia do conhecimento a coisa mais importante do mundo, e as crianças, muitas delas, acreditaram! Êta professora boa! D. Inês, foi extraordinária e é dela o mérito de muitos de seus alunos conseguirem transformar suas vidas em existências produtivas e felizes.
Depois de anos, eu soube de algumas histórias que tinham acontecido.
Coisas incríveis, infâncias tenebrosas, que aparecem como histórias de gente que deu a volta por cima. Tinha um menino, que apanhava do pai loucamente. Estava sempre coberto de manchas roxas. O pai, açulado pela 2ª mulher , batia sempre no menino! Uma tristeza! Um belo dia saíram da fazenda. Pois não é que hoje em dia ele tem uma mecânica de peças de caminhão, muito bem montada, cheia de cientes satisfeitos?
A Izinha vem de uma linhagem de cozinheiras de mão cheia .Trabalharam na fazenda com minha avó, que também cozinhava muito bem. Depois de sair da fazenda, já casada com filhos, continuou a cozinhar para fora, e agora ela tem um buffet que serve até 800 pessoas. É procuradíssima porque seu tempero é imbatível!
A Maria se casou bem mocinha e é muito bem casada. Foi uma dona-de- casa primorosa e o casal educou as filhas, todas lindas, muito bem . A mais velha é psicóloga há anos numa firma bem grande; a segunda está estudando Engenharia. A caçula estuda Administração.
Dá pra ver que Educação de casa dá muito resultado. Parabéns!
Uma das alunas da escola casou-se com um suíço e está esperando a pensão do marido para voltar e morar numa casa que ela já construiu em São Manuel . Como a vida é cheia de novidades, uma das meninas tornou-se garota de programa !
É, a história tem de tudo!