De lá para Ca

Da Florêncio para a Eucaliptos

Meu avô, em sua carta de 23 de maio de 1932, descreve sua saída do escritório, rumo à sua casa, passando por uma cidade convulsionada pelo início da Revolução de 32.

Ele sai da R. Florêncio de Abreu e espera um “camarão”. Fiquei interessada como seria esse tal de “camarão”, até porque eu me lembro de ter andado num bonde desse tipo em São Vicente quando eu era ainda uma garota. Tenho a impressão que era apenas para passeios turísticos, não mais linhas regulares.

Naquela hora e momento não havia nenhum meio de transporte disponível e assim meu avô foi andando até o Largo São Bento, onde o bonde teve o trajeto interrompido pela aglomeração na praça do Patriarca, que impedia a passagem de todos os bondes da Vila Mariana, que faziam ponto final em São Bento, cujo largo contornavam para voltar à Ponte Grande. Esta linha Vila Mariana – Ponte Grande existia desde 1920, e pelo seu trajeto pode ser considerada a base do projeto da linha Norte-Sul do Metrô.

Largo São Bento

Foi andando pela Líbero Badaró e José Bonifácio, chegou à Praça da Sé onde um “camarão” da linha IH já se mexia , com destino à Av. dos Eucaliptos, seu ponto de chegada

O nome Líbero Badaró é uma homenagem ao médico italiano João Batista Badaró e seu apelido de “Líbero”, por defender ideias liberais. Fundou o jornal “Observador Constitucional” e foi assassinado por suas ideias ,à porta de sua casa e antes de morrer disse: ”Morre um liberal, mas não morre a liberdade”, frase esta escrita em seu túmulo, no Cemitério da Consolação, em 1830.

A José Bonifácio , antes também chamada rua da Cadeia Velha e de outros nomes de políticos a serem homenageados , até que o nome de José Bonifácio, o Moço foi o escolhido, já que ele tinha sido atuante na Câmara dos Deputados. Era sobrinho de José Bonifácio, o Patriarca da Independência.

Quantas pessoas notáveis emprestam seus nomes às ruas de São Paulo. Seria para lembrarmos de gente bacana?Talvez, mas não temos tanta gente bacana assim, para se lembrar deles e copiar suas posturas!

A área da Praça da Sé foi cedida por Martim Afonso de Souza para a construção da cidade de São Paulo. Lá foi colocado o marco zero, e construida uma igreja matriz. Muitas construções foram sendo erguidas e demolidas com essa finalidade, até que a última igreja, histórica e linda, demolida em 1911, deu lugar ao atual projeto, que ao meu ver é horrível, longe de nossas raízes arquitetônicas paulistas e brasileiras. A atual igreja foi projetada por Maximiliano Hehl, em estilo gótico. Foi inaugurada em 1954, ano do quarto centenário da cidade. Com tantos arquitetos brasileiros maravilhosos, premiados na Europa e Estados Unidos,conseguimos erigir um marco de um mau gosto infernal! Não dá para acreditar!

Foi lá , na praça, que meu avô pegou o “camarão, rumo à sua casa.

O primeiro bonde elétrico de São Paulo circulou em 1902 e partia do Largo São Bento e ia até a Chácara do Carvalho na Barra Funda . Nessa época esse veículo não trafegava à noite, pois era muito perigoso. É, já nessa época, meu Deus!

Os bondes elétricos circulavam ao lado de bondes velhos reaproveitados , que por falta de manutenção não funcionavam e foram sendo abandonados. Em 1927, foram incorporados à frota um bonde fechado, chamado de “Camarão”, típico da cidade de São Paulo. Por ser fechado, impedia a saída dos passageiros sem pagar. Nos bondes abertos muitas pessoas entravam e saíam do bonde pelos lados , fugindo do cobrador!

Nesta época o bairro de Moema era tranquilo com apenas comércio local. Um bondinho ia pelo centro da Av. Ibirapuera e demorava mais ou menos   20 minutos da Vila Mariana ao Largo Treze de Maio . Não havia movimento, pois Santo Amaro era apenas um município que só foi incorporado à São Paulo em 1935.

Estou seguindo um caminho imaginário da Praça da Sé até a Av. dos Eucaliptos, pois imagino que nada em 1932 se parecesse com a Av. 23 de maio atual (só o nome da Revolução). Neste trajeto , há marcos da nossa cidade, que estão bem preservados. O comecinho do que seria o parque do Ibirapuera, devemos a Manuel Lopes de Oliveira, o Manequinho Lopes, em 1927. Funcionário da Prefeitura transformou uma área alagadiça em uma região cultivada e começou a plantar dezenas de eucaliptos e plantas exóticas. Hoje é o viveiro da Prefeitura que arboriza ruas e praças de São Paulo.

Nunca pensei que o Manequinho Lopes tivesse essa cara, essa barba!!!!

Bem próximo do Viveiro, do outro lado da Avenida 23 de Maio, está um prédio projetado por Oscar Niemeyer onde era o antigo Detran, e agora abriga o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, o MAC. Este museu é formado, basicamente, pelas doações de Francisco Matarazzo Sobrinho, de sua mulher Yolanda Matarazzo, e ainda de um aporte do Museu de Arte Moderna, e hoje possui cerca de 10 mil obras de Picasso, Matisse, Miró, Tarsila, Volpi e muitos outros artistas dessa importância.

Estamos mais perto da casa do meu avô

Uma das paradas do bonde, no bairro de Indianápolis, chamava-se “Moema”, corruptela do nome indígena Mo-em, que significa “Aurora”.

Até 1930 o bairro possuía apenas a pequena capela dedicada a Santa Rita, que media 50 metros quadrados e abria  suas portas somente aos domingos. Insatisfeito com a situação,  Raul Loureiro, cuja mulher, Dona Antonieta, era devota da de Nossa Senhora Aparecida, lutou pela construção da Igreja e da praça ao seu redor. A pedra fundamental foi lançada em 26 de março de 1933.  A inauguração definitiva foi feita no dia 15 de agosto de 1941, dia de Nossa Senhora da Glória.

Em 1934 o bairro contava com 7.492 habitantes, em 1940 com 10.790 habitantes, em 1950 com 28.710 habitantes, e em 1963 com 64.872 habitantes. O grande período de crescimento de Moema começou no fim dos anos 70, com a construção do Shopping Ibirapuera. O comércio atraiu muitas pessoas para a região nesta ocasião.

Com o crescimento das indústrias do bairro, atraindo grande número de imigrantes de diversas partes da Europa Central, principalmente alemães e austríacos. Havia 4.000 habitantes nesta época.

Foram construídas várias casas operárias e muitas vilas operárias. Muitas dessas casas eram pré-fabricadas, trazidas da Inglaterra, por operários da ferrovia, por volta de 1895.

Foi daqui que meu avô, aflito, se arrumou logo depois de jantar, para voltar à cidade, curioso estava em saber o que tinha acontecido  e “espiar” o estava acontecendo.

A estação do Metrô neste lugar de hoje em dia, iria se chamar Ibirapuera, mas o nome da estação foi mudado para Estação Eucaliptos por ser original e o nome fazer história do bairro.

Estação Eucaliptos, a ser inaugurada um dezembro de 2017.

Eu acredito! Foi promessa de político!!!

Prezados leitores,

Não gosto de escrever textos muito compridos porque acho que desanima, dá preguiça. Mas tem uns assuntos que eu acho muito interessantes, que saem maiores do que eu queria. Aí, penso: ninguém é obrigado a ler, e eu não vou ficar sabendo!!

Por isso resolvi colocar mais um tópico, que eu acho bem importante que é o Instituto Biológico.

O Instituto Biológico (IB) é um centro de pesquisa voltado à produção, difusão e transferência de tecnologias e conhecimento científico nas áreas de agronegóciobiossegurança e outras atividades.Fica perto do Parque do Ibirapuera. O Instituto foi criado em 1927, e hoje dia  e, atualmente, é um dos principais centros de formação de cientistas do estado, com forte atuação na área de pós-graduação.

Faz tempo, nós tivemos um problema de uma doença esquisitíssima com algumas cabeças de gado, na fazenda. Meu irmão e eu fomos lá, é um lugar austero, e fomos muito bem atendidos e nosso problema resolvido! Que bom que esta instituição ainda funciona bem, nessa época de tantos descalabros!

Referências:

PORTO, Antônio Rodrigues. História da Cidade de São Paulo: 1997, São Paulo, 3ªdição:Ed. Carthago

parqueibirapuera.org/equipamentos-parque-ibirapuera/viveiro-manequinho-Lopes/
parqueibirapuera.org/equipamentos-parque…/museu-de-arte-contemporania-mac-usp/
www.mac.usp.br/
aparecidamoema.org/