Maria Teresa C. R.  Moreira

Decidi trocar a roupa de cama hoje. Chega de dor. Vou lavar essa roupa cheia de vírus e de todo o peso do mundo. Já coloquei roupa fresquinha e cheirosa na cama cansada do peso das minhas lágrimas.

Vim pro meu ateliê. Quero recomeçar. Não. Nada de recomeçar. Não sei o que vou começar mas não quero e não posso retomar o que era. Me sento pra escrever.  Olho pela janela essa paisagem que me encanta, que me abraça,  que me consola… e vejo que tenho duas companhias.

 Do lado esquerdo, um urubu secando suas asas ao sol. Do lado direito, uma maritaca verdinha e caladinha. Os dois quietinhos, me olhando, me acompanhando. Começo a escrever. Declaro na minha escrita que não quero continuar como estava até agorinha, quando acordei. E assim que eu escrevo isso, o urubu levanta voo ruidosamente. Fico pensando que ele achou que tinha cadáver por aqui mas já não tem mais. Ficou só a maritaca,  pra fazermos barulho juntas,  cantarmos e nos juntarmos a outras, e voarmos por esse azul afora, encantadamente.

“Coincidentemente”,  li um trecho do Mulheres que Correm com os Lobos, das páginas 188 a 191.