Saindo da faculdade, já no fim do semestre, procurando um estágio, fui à ”Favela Colosso”, nome bem apropriado, tanto pelo tamanho como pela importância do local . Favela que se chama favela. Não tem nada de “comunidade”, nome que falseia uma realidade p’ra lá de difícil. Lá, é esse o nome, e as pessoas chamam este lugar, sua casa, de favela. Eu nunca tinha ido a um lugar como esse, assim, pessoalmente, e só o conhecia pelas novelas da Globo. O cenário é igualzinho, mas a realidade ultrapassa qualquer capricho cenográfico. Na tela da televisão não tem calor, cheiro, umidade e o colorido descombinado, mas não deixa de passar um certo ar de realidade.
Quando cheguei, apesar de saber o endereço, não conseguia encontrar a entrada: uma ruazinha estreita, com muitas barracas dos dois lados. De um, vendiam-se luvas de lã, bonezinhos para crianças e alguns carregadores de celular ; e do outro lado, fatias de abacaxi e de melancia que estavam dispostas em tabuleiros. Eu adoro comer na rua, mas daquela vez eu não quis ficar melada! Afinal eu ia conversar com a mandachuva do pedaço!
Fui seguindo por essa viela, que logo se transformou na rua principal . A essas alturas, eu já tinha ligado para a moça do grupo da faculdade , que vinha caminhando para mim , falando ao celular. Fomos andando juntas pelo meio da favela.
Do um lado da rua, era uma fileira de portas de madeira, de todas as cores e tipos . As folhas das portas eram quebradas e trincadas. Dentro das casas, algumas escadas feitas de sucata, que não levavam a lugar algum. Do outro lado, dentro de um carro caindo aos pedaços, sem portas nem capô, dois homens usando camisetas regata, estavam sentados nos bancos rasgados e conversavam com um jovem, totalmente engessado, pernas e braços, absolutamente imobilizado, sentado numa cadeira de rodas,
Chegamos ao final da rua, onde tem um galpão, bem construído. É onde as crianças ficam, quando chegam da escola, no fim da tarde. Adoram ficar lá e lá ficam, até a hora de dormir. Liliana, a professora da turma , deu um apanhado geral das necessidades da garotada. Sugeriu que seria bom um reforço para elas. São 40 crianças, que estudam nas escolas públicas do bairro. Analisei o caso e vi que seria praticamente impossível dividir 40 crianças em diversos níveis de dificuldades e de conhecimento.
Mas eu tinha acabado de estar com uma família alemã, que, visitando o Brasil, comentou que nem os empregados de turismo do Rio falavam Inglês.
Aí percebi que a melhor coisa a se ensinar para todos era Inglês. Matéria importante , e com a possibilidade das aulas poderem ser dadas a todas as idades e níveis de conhecimento, ao mesmo tempo. E também pensei em usar material de uma boa escola particular. Achei a ideia ótima , para que essas crianças possam conhecer um jeito cultural diferente do deles, de uma forma também diferente.
Eu estava conversando com a professora Liliana , sentada numa mureta do galpão, quando vi se aproximar uma moça morena, forte, com o cabelo todo preso no alto da cabeça, que formava uma bola, visto que o cabelo era bem crespo.
Ela era dessas pessoas, que mesmo estando longe e se aproxima tranquilamente, a gente logo percebe a presença. Tem gente que brilha, não importa quem seja ou onde esteja. E ela era o meu contato! Preparada para resolver qualquer assunto importante para a Favela Colosso. Logo vi que seriam muitos ou, todos os assuntos!
Aí , a professora Liliana, toda animada e orgulhosa me falou : “-Você não sabe, ela é importantíssima: foi ela quem invadiu esse espaço!!!”
É ! Tem gente bem bacana, que sabe ser bem importante!