Vou contar uma história que aconteceu no mês de julho. Verdadeiríssima a história sobre como meu pai veio de Lençóis Paulista para o Mausoléu do Soldado Constitucionalista, no Ibirapuera, dia 9 de julho, participando da parada e tendo além disso, seu nome estampado numa flâmula.
A parada , na Avenida Pedro Álvares Cabral, era assistida por centenas de pessoas e fazendo parte do desfile , ainda uns poucos soldados constitucionalistas, com bandeiras de São Paulo e capacetes usados em 32,e a flâmula com o nome do meu pai no meio deles.
Dentro do Mausoléu, uma gavetinha, das muitas que havia numa parede, acomodou seus restos mortais. Um orgulho!
Aqui finalizamos a última viagem de um homem orgulhoso de suas corajosas origens paulistas.
Esta viagem não foi fácil! Um ex-aluno do meu pai, queria de qualquer jeito, trazer meu pai para o Mausoléu, mas minha mãe não deixou. Afinal, ela se distraía demais, cuidando do túmulo de seu marido, arrancando matinhos e colocando flores no dia de Finados. Mas um dia, minha mãe também morreu, e aí eu pude começar a trabalhar a ida de meu pai para São Paulo, recolhendo todas as provas que meu pai tinha, para provar que ele era , realmente e com todo orgulho ,um soldado constitucionalista.
Ele tinha um desejo muito forte ser reconhecido por ter participado da Revolução de1932.
Preenchi um monte de papéis, aqui em São Paulo e também em Lençóis. Lá tive a surpresa de resgatar um tal de “saco azul” .
Eu não sabia que quando há uma exumação, o remanescente deve ser empacotado num saco azul. É um pouco desagradável e estranho mexer com isso, mas a pessoa responsável no cemitério de Lençóis estava me esperando com o saco azul .Coloquei o pacote no porta-malas do carro , peguei a Castelo, e guiei o mais rápido possível para São Paulo. .De qualquer forma, a primeira parte do processo estava cumprida l. Próximo passo: cremação! Isso tudo é complicado e fui à Vila Alpina o lugar mais conhecido e que também tem um contrato de cremação com o Mausoléu. Ótimo, tudo bem, mas só tinha hora para o serviço para depois de outubro.! Aí não dá! Eu precisava entregar as cinzas do meu pai antes do dia nove de julho. Já imaginaram ter que esperar o ano seguinte, carregando o saco para lá e para cá?
Só que foi o que fiz. Enquanto não decidia que atitude tomar, decidi mostrar pro meu pai uma São Paulo maior do que a que ele havia conhecido, amado e também lutado por ela.Com os ossos dentro do carro fiz um tour pelo Morumbi, grande e moderno, que ele não conheceu. O conhecido era um pasto cheio de vacas pastando! Bucólico! Fomos a bairros já bem diferentes. Foi uma delícia!
Mas com a lembrança daquela confusão com das cinzas do Peter, que me perturbou demais , eu não quis que ossos ficassem rondando pela minha casa. Acertei um outro crematório, que levaram as cinzas diretamente para o Mausoléu. Fiquei muito contente pois meu pai sempre esperou essa homenagem. Quem lutou na revolução de 32 sabe do orgulho que sente!
E agora, todo o dia 9 de julho, uma banda com todos os anjos vai tocar e homenagear os bravos soldados no Ibirapuera e não mais em Lençóis, onde a banda sempre tocou, no dia 9 de julho, embaixo da janela do meu pai, às 4 horas da manhã!
Teresinha no Mausoléu, apontando a gaveta onde estão os restos mortais de seu pai
Aqui está o comentário da Teresinha depois de ver seu texto publicado e os comentários das pessoas que leram e amaram seu texto!
Pois e a historia e comovente e amei também. Chorei muito durante a cerimônia. Era um resgate entre meu pai e eu fazer exatamente o sonho e o patriotismo dele. Ir para o mausoléu. Meus filhos estavam e tb puderam sentir a mesma emoção mesmo tendo convivido muito pouco com o avo pois este faleceu em 1970 . Ruth leve seu sogro para o mausoléu. Ainda tem muito lugar. Muita gaveta em aberto. Quem for lá pode ver o nome de meu pai do lado esquerdo bem na ultima fila no topo mesmo CAP Murray Martins de carvalho.
Por Terezinha Zillo