Capela dos Aflitos (hoje em dia)
Capela dos Aflitos ( antiga)
O primeiro cemitério de São Paulo, foi criado em 1774, na atual Liberdade. Lá eram enterrados pobres, condenados, e os não –católicos da cidade.
A capela dos Aflitos foi construída cinco anos depois, dentro deste cemitério mas, com a construção do Cemitério da Consolação, o dos Aflitos foi fechado. Porém a capela dos Aflitos ainda está lá, bem no meio dos prédios, no Beco dos Aflitos.
Hoje em dia, no largo da Liberdade , ainda existe a Igreja da Santa Cruz das Almas dos Enforcados , que continua de pé e recebendo montanhas de velas acesas oferecidas por fiéis às almas dos enforcados , com a intenção de receber, do Divino ,o que quer que seja o seu mais profundo desejo. Eu, com meus 15 anos, fui uma assídua frequentadora dessa igrejinha milagreira! O meu grande desejo era que o Totonho gostasse de mim! Eu ia até a São Francisco, onde minha irmã também estudava, sempre o via, fumando e conversando com os amigos. Íamos , nós duas, caminhando pela r. Riachuelo, pela lateral da Catedral , atravessávamos a praça João Mendes, chegávamos à Av. Liberdade, e aí já estávamos bem pertinho da igreja. Comprávamos velas, acendíamos todas elas e, contritamente, pedíamos o amor e que este amor nos trouxesse muita felicidade ! Mas meu coração não ficava leve. O que pesava era a dúvida da realização do pedido. Mas as almas dos enforcados, generosas, me ouviram e me atenderam rapidamente !
Será que essas almas, tão compreensivas, assombram, durante as noites, as ruas onde ficava o antigo cemitério? Muita gente acha que sim…
A construção do Cemitério Municipal, na Consolação, foi terminada em 1858, e foi feita para substituir o hábito horrível e insalubre de se enterrar os mortos dentro das igrejas, onde as pessoas ficavam sentadas no chão! Não dá nem para imaginar como as doenças se espalhavam nesse ambiente!
Para se evitar as epidemias, foi escolhido um lugar no alto e longe da cidade. Escravos foram as primeiras pessoas a serem enterradas nesse cemitério , mas com o surgimento da aristocracia do café e o nascimento da burguesia, o perfil das pessoas que seriam enterradas aí mudou. Muitos túmulos foram construídos por grandes artistas, como Brecheret e o arquiteto Ramos de Azevedo e muitas pessoas importantes , escritores, pintores, políticos estão enterrados nesse cemitério, como Monteiro Lobato, Tarsila do Amaral e Luís Gama.
Foram esses túmulos, que com minha mãe, fui visitar num dia de Finados. Fomos andando pelas alamedas, observando os anjos de mármore com grandes asas, figuras desoladas apoiadas em cruzes, pequenas igrejas de granito e bronze.
Até que cheguei a um túmulo bem grande, com várias figuras , que representavam a família, o trabalho, a caridade. Chamei minha mãe e disse a ela que esse era um dos túmulos que eu tinha estudado no curso do CIEE, que eu acabara de fazer. Aí comecei a descrever e explicar, tal qual uma professora experiente faria. Nisso uma mocinha, com um microfone na mão, vem correndo e pergunta se eu podia falar aquilo tudo no microfone para um programa de TV do SBT. Fiquei toda animada!
–Lógico!
E fui falando tudo que eu tinha aprendido na aula com aquele ar de professora sabe tudo!
Ela disse que a entrevista ia aparecer no Jornal das 7h da noite e eu fiquei esperando. Como não apareceu, desencanei, e não é que o programa sobre o Cemitério passou no Jornal das 11h? Eu não vi, mas pedi para um moço , desses que gravam tudo para empresas, para me arrumar um CD desse programa. Ele arrumou, e é este que está aqui em baixo!
Achei a reportagem bacana, mas a repórter fala Patrícia Gusmão, em vez de Galvão e, no auge da folga, sobe num túmulo que tem um banco vazio, representando a saudade sentida por quem ficou e senta no banco, como se estivesse numa praça! Às vezes essa moçada é meio desligada…