Tio Raul tinha uma vida maravilhosa. Nascido em Santos, morava numa ampla casa assobradada, nas areias da Ponta da Praia. Era um ótimo aluno, estudava num colégio que ele amava, dos Maristas, onde frequentava à   tarde. Suas manhãs eram ocupadas fazendo lições e, delícia das delícias, ia à praia, corria e nadava com um grupo de amigos. Não na corrida, mas na natação, tio Raul era imbatível. Seus dias eram completos e ele sabia que era feliz.

Mas como muitas vezes acontecem coisas que a gente não quer que aconteça, dessa vez aconteceu.

Tio Raul foi mandado para um internato em São Paulo. O menino se perguntava o porquê. Deve ter sido por causa do seu irmão mais velho, Roberto, que era impossível, briguento, desobediente. Talvez ele fosse assim por causa da tristeza sem fim de sua mãe, desde que tinha perdido seu filho mais velho.

Lá foram os irmãos internos, para o Arquidiocesano, com uma mala bem robusta, deixando para trás as coisas que eles mais amavam.

A Escola era linda, os padres maristas acolhedores, os colegas afáveis, mas tio Raul tinha a impressão profunda de que ia morrer, tal a tristeza de ter deixado para trás aquela vida!  Uma sensação de solidão e abandono, sem aquela vida maravilhosa, que ele valorizava como ninguém. Cada vez mais infeliz, tio Raul, sempre religioso, um dia conversou com o Espírito Santo. E sabem o que ele disse? “Raul, Fique sempre ocupado, estude, trabalhe.!” Foi o que tio Raul fez. Estudava o dia inteiro e passou a ser o melhor aluno da classe. O tempo passa para tudo!

 Tio Raul passou para o ensino médio e foi morar na pensão de um casal italiano. Essas pessoas foram ótimas, receberam aquele jovem como se fosse seu filho. Passados muitos anos Dona Rina ficou sozinha, sem família ou companhia. Passava alguns dias, de vez em quando, na casa do Tio Raul, usufruindo da sua companhia.

Bom, tio Raul entrou na Poli, trabalhou a vida inteira como engenheiro, formou uma família , teve filhos e vários netos.

Que infância, tio Raul!

Que vida!