Fui tomar um cafezinho com bolo de coco, na casa da tia Yedda, uma amiga mais que queridíssima . Ela tinha me convidado para contar uma historinha que tinha acontecido com a filha dela e o Oscar Niemeyer. Fiquei interessadíssima .
Estávamos , então, conversando deliciosamente, quando entrou na sala a filha dela, que é uma pessoa bem famosa, a Renata Falzoni.
Eu já fui pedindo para ela responder umas perguntas e ela perguntou:” você tem um briefing?” Briefing, nem sei o que é isso, e comecei a fazer umas perguntinhas .A Renata logo pegou meu celular, pôs o aparelhinho para gravar, depois transferiu a gravação para meu email. É bom entrevistar pessoas do ramo! Fiquei com o registro, sem ter a mínima noção de como ele foi parar nos meus domínios!
A Renata fez Arquitetura no Mackenzie e trabalhou como arquiteta por alguns anos. Estudou jornalismo na Cásper Líbero, e enquanto exercia todas essas atividades, ela já começava a andar de bicicleta. Andar, só? Não !! Fazer da bicicleta uma forma de vida, de luta pela importância de mobilidade barata e saudável. Chegou até mesmo a dar seu carro para um irmão, o que me parece um total desprendimento. Também teve um programa na ESPN, o que proporcionou a ela viajar pelo mundo, visitando 22 países, pedalando e fotografando, porque , a essa altura, já era fotógrafa de revista famosas, e fez trabalhos lindos, importantes, muitas vezes conseguidos perigosamente!
Mas pra mim, a aventura mais incrível foi 1) a foto da modelo para a 2) revista Playboy na 3 ) Serra Pelada! Nossa, que combinação!!
Serra Pelada é uma região no Pará, onde, na década de 80, foi achado ouro, e daí se transformou no maior garimpo a céu aberto do mundo,. As condições de trabalho eram muito precárias, um calor infernal, as escadas frágeis e quebradas que até eram chamadas de adeus-mamãe . Os ”barrancos”, perigosamente, deslizavam com facilidade.
Foi nesse lugar que a Renata foi fotografar a modelo para a Playboy.
O ambiente da cava era muito tenso, com muitas restrições de vida, os homens trabalhando duramente, sendo explorados ,num ambiente geograficamente perigoso, pessoalmente frustrante.
Estava a equipe toda lá , com todo o equipamento , na parte bem inferior dos barrancos, quando houve um deslizamento de terra que soterrou muitos garimpeiros. É claro que a situação ficou péssima e tensa, as pessoas tentando sair daquele buraco , os donos dos “barrancos” tentando impedir que a equipe fotografasse a cena horrível, enquanto esta tentava sair de lá, subindo as escadas quebrando e a Renata, com medo de perder seus filmes, jogou a máquina para cima, enquanto alguns homens tentavam impedi-la de sair. A situação foi controlada pela intervenção policial, que evitou uma carnificina.
A sessão de fotografia foi retomada 4 dias depois, apesar do resultado ter sido maravilhoso, não foi publicado na revista. Era época do regime militar ,e a censura proibiu a publicação .
Bom, falei tanto de coisas bacanas das aventuras da intrépida Renata, que nem mencionei, ainda, a parte mais brilhante da vida desta ciclista apaixonada.
Muito mais do que apenas “andar de bicicleta”, a Renata acredita, de todo o coração e alma, que a bicicleta muda o mundo nos planos da mobilidade, do esporte, do lazer e da cidadania. Para espalhar, compartilhar e generosamente ensinar, ela montou o site Bike é Legal https://www.youtube.com/user/BikeeLegal que mostra , de um jeito bem movimentado e ilustrativo, o que a bicicleta pode fazer de bom para todas as pessoas do mundo!
E a historia da tia Yedda? Na próxima, na próxima, sem falta!