Outro dia, saindo da casa do Zé, fui até a estação Santa Cecília do Metrô. Perto da plataforma vi um enorme painel branco e preto, com a fotografia de um bonde lotado, de 1950.
Em frente à foto, uma figurinha que me lembrou o Yoda, observava . Chegando a seu lado, ele me perguntou: “ Você já andou de bonde?” Eu disse que sim, quando era criança, em São Vicente. Ele havia andado muitas vezes , desde que chegara ao Brasil, vindo do Japão, em 1957. Reparei na medalha brilhante pendurada no seu peito. Ouvi o barulho do metrô chegando e, depressinha, me despedi.
Duas estações depois, a ficha caiu! Como é que eu não tinha aproveitado a oportunidade de conhecer sua história, provavelmente interessante?
Fiquei irritada, pensando em um jeito de encontrá-lo outra vez. Logo me lembrei que muitas pessoas sempre voltam ao lugar do “crime”!
Decidi voltar lá, sempre no mesmo horário. Quem sabe…
Na semana seguinte, fui à estação. Atravessando o largo Santa Cecília, vi uma figura singular. Fui andando depressinha para fotografá-la e na hora que cheguei perto, o moço se virou para mim, inesperadamente, e pediu R$ 10,00.
Levei um susto, afinal era eu que estava perseguindo-o. Imediatamente fiz a troca , por uma foto. São pessoas assim, que dão um colorido especial nas praças, ruas e na gente.
Mas o japonês, nada!
Na semana seguinte, mal conseguia atravessar a praça, que estava tomada de mesinhas e pessoas tomando cerveja. Várias televisões ligadas, nas lojas ao redor . O que era?
Era a final da Libertadores da América! Num misto de desconforto e animação, vi que era um jogo de dois times argentinos. Brigaram tanto na terra deles que esse jogo foi em Madri! Os organizadores ficaram com medo de lutas fraticidas.
Boca Juniors e Riverplate foram se enfrentar lá. A turma da praça, por falta de opção nacional, tirou o dia para fingir que era o hexa !!!
Mas o japonês, nada!
Na semana seguinte, vi uma moça tão linda, que eu pedi para fotografá-la. Era bailarina e estava correndo para o ensaio.
Chegando à estação, perguntei ao encarregado Waldomiro se ele conhecia a pessoa que eu tanto procurava. E não é que ele disse que sim? Que ele ia lá ,sempre às 8 horas da noite.
De onde vinha e para onde ia?
Trocamos nossos WhatsApp e ele ficou de me avisar quando meu personagem estivesse lá.
Um belo dia , Waldomiro me ligou e lá fui eu para Santa Cecília.
Esperei ao lado da catraca.
Ele apareceu!
Fui correndo falar com ele e sabem o que aconteceu? Ele começou a gritar: “Você é do PCC, do PCC!! ” Credo, que lôco,!
Lembrei-o que fora ele que falou comigo primeiro, perguntando sobre bondes. E não é que ele se acalmou e começamos a conversar?
A conversa foi ,deveras, peculiar…