Meu pai era um são-paulino roxo. Amava o São Paulo FC tanto, que , desconfio , gostava mais do São Paulo do que de seus próprios filhos! Esse amor nasceu quando, um dia, andando pela av. São João, entrou numa sala, que era do SPFC. Nesta sala estavam penduradas, num varal, várias camisetas tricolores. Foi aí, nesse momento , que seu coração de 16 anos, bateu mais depressa, e assim ficou até o resto de seus dias.

O Veio adorava ir ao estádio, com uma almofadinha com o querido símbolo estampado. Quando seus netos já estavam grandinhos, ele os levava ao jogo. Um dia meu filho me disse que não iria mais com ele. ”Uai, por quê? “ “Porque quando o São Paulo faz uma jogada bonita ou faz um gol, o vovô fica gritando, até quando a jogada já terminou e todo mundo já sossegou, e vai ficando vermelho, vermelho, que eu tenho até medo de ele ter um troço!” Passado um tempo, minha mãe proibiu o marido tricolor de ir a jogos. Não queria ficar viúva tão cedo!

Cada caso… Uma vez, a gente voltando da fazenda, os filhos atrás no carro o Veio resolveu nos ensinar o grito de guerra do São Paulo. E começou:” Arakan-Baran-Bakan..”.

A filharada ia repetindo, até que uma hora a Helô travou. Não conseguia repetir. Meu pai era uma pessoa afável, gentilíssimo com os filhos. Mas dessa vez ele se revoltou. Forçava a Helô repetir sozinha. É claro que a coisa piorou. Ele, sempre tão calmo , berrava de ódio. A Helô ficou tão traumatizada, que nunca aprendeu esses versos sem sentido, e além do mais, não se lembra nem desse evento!

Um dia , indo para a São Manuel, o Veio parou no Pacaembu e comprou uma camiseta do Corinthians. Levei o maior choque, mas ele explicou que em São Manuel não tinha esse tipo de camiseta para comprar e o Gerson, o eletricista, era corintiano fanático.Aí ele disse: “Acho que ele gosta do Corinthians assim com o eu gosto do São Paulo” .

É isso que faz o amor ao um clube, a um esporte a seus torcedores :ensina-os a serem generosos até com seus adversários,e a compreender os sentimentos dos outros.

Veio, até hoje meu coração esquenta quando vejo o nosso São Paulo “de mon petit coeur”, entrando pelo gramado verde, e a torcida gritando: São Paulo! São Paulo!

Agora, olha se pode: o Frederico, meu sobrinho de três anos já ama o São Paulo e sabe, apesar de tão pequeno, o Hino do nosso Tricolor Paulista!

Achei demais! Que graça! Que orgulho!