Meu filho precisava entregar o apartamento pintado e eu indiquei um pintor, conhecido de todo mundo da vila onde eu morava. Ele já tinha feito uma pinturinha na minha casa. Algumas vezes, ele até trocava serviços por coisas, um verdadeiro escambo, tipo trocar uma pintura de portas por um motor velho, um pedaço de tela, meia lata de selante. Mas o serviço era bom e ele estava sempre de bom humor.

Ele veio buscar o dinheiro pra comprar tinta e começou o serviço num sábado.

Na segunda-feira , ele foi cedo para o apartamento, para continuar o trabalho.

Nesse dia, no fim da tarde, fui buscar minha linda neta, de 4 anos, na Escolinha do Pinheiros. Comemos um pão de queijo e fomos pegar o carro no estacionamento do subsolo.

Aí recebi um telefonema, no celular, e ouvi uma voz gritando:

– Dona Renata, Dona Renata , eles vão me matar! Vão me matar!

Vi que o número era do pintor .Fiquei agoniada, porque o telefone tocava e desligava e quando eu retornava , dava caixa postal. Imagino que fosse por eu estar no subsolo. Achei melhor ver o que estava acontecendo, e ligar para o prédio do meu filho, que, por sinal, estava viajando. Parei numa entrada de prédio, movimentadíssima. Falei com o zelador Beto e ,muito preocupada, pedi para ele ver o que estava acontecendo no apartamento . Logo depois ele me ligou, dizendo que o pintor estava trancado lá dentro, ameaçando pular pela janela ! A situação estava dramática! Não dava para entrar no apartamento e tentar, pelo menos, impedir que ele pulasse. Me senti impotente diante dessa situação gravíssima, e então decidi chamar o Corpo de Bombeiros, que era a melhor opção. Mas o zelador Beto disse-me que os bombeiros já tinham sido chamados e deviam estar chegando.

Aí fui correndo para a casa da minha filha devolver minha neta, que ainda estava sentada, seríssima, na cadeirinha do banco de trás, ouvindo essa loucurada toda.

Chegando lá, recebo uma ligação do zelador Beto pedindo uma cópia da chave do apartamento, que estava na minha casa. Fui correndo pegar a chave e já estava indo ao prédio , mas fiquei parada no trânsito infernal do final de tarde.

Nisto recebo outra chamada do zelador, contando que os bombeiros já haviam arrombado a porta, agarrado o pintor que estava na beira da janela, e, como já tinham chamado o SAMU, estavam levando-o para um hospital.

E minha mãe, que estava na casa de uma amiga, num prédio em frente, e não podia sair? Não é que o quarteirão estava todo fechado com carros de Bombeiros, carros de Polícia , ambulâncias e uma gentarada observando os acontecimentos?

Sabendo que o pintor já estava a salvo, e que a chave não era mais necessária, visto que a porta tinha sido arrombada , voltei para casa, tomei um banho, 3 gotas de Rivotril e fui dormir.

No dia seguinte, fui cedinho ao prédio para ver se estavam precisando de alguma coisa, mas fui impedida de entrar no apartamento e eu precisava entrar, até porque eu queria , necessitava, ver os estragos da porta, que teria que ser consertada. Eu tinha que esperar a vistoria dos bombeiros e da polícia ser feita no local do fato ocorrido.

A síndica havia ordenado que eu me livrasse do carro do pintor, apesar de estar estacionado na vaga do apartamento. Resolvi tirar o carro, para não criar caso. Afinal a confusão já estava pra lá de Bagdá!

O carro era uma sucata! Não consegui abrir a porta da frente e muito menos dar a partida! Resolvi, então, ligar para o celular do pintor, imaginando que um parente ou amigo fosse atender. Iria pedir que alguém fosse tirar o carro de lá. O zelador, que queria ouvir a conversa, estava junto comigo, na entrada do prédio.

Levei o maior susto quando ouvi a voz do próprio pintor.

Ele ainda estava no hospital, sendo encaminhado ao Caps, que é o centro especializado de problemas psíquicos. Lá começaria o tratamento para dependentes químicos! Meu santo! eu não tinha percebido que o problema era esse!

Comentei, com o zelador Beto, que estava ao meu lado, xereteando a prosa, que eu nunca havia percebido que ele era usuário de drogas!

Dois dias depois tiraram o automóvel, e depois dos procedimentos de praxe feitos pelos bombeiros, o apartamento foi liberado, para que fosse arrumado e pronto para ser devolvido ao proprietário.

Caros amigos,
Na semana que vou contar a continuação dessa história, cujo título é:
“Marcado para morrer –O Processo”
Espero encontrá-los aqui!