Sabe aqueles dias que a casa está uma bagunça, as crianças atrasadas para a escola, não querendo comer , chorando e gritando, querendo Danoninho, eu tendo chiliques de ódio, abro a geladeira com tanta força, que cai uma garrafa de Coca Cola , espatifa no chão, espalhando caco por tudo quanto é lugar?

Fiquei possessa e fui chamar o elevador, porque o motorista não parava de interfonar chamando as crianças.

Abri a porta da frente e quase arranquei a fechadura, tão atacada eu estava.

No hall, tranquilamente esperando o elevador, um senhor finíssimo observava os números dos andares.

Tentei ser fina e delicada mas minha voz estava rascante.

– O senhor me desculpe, essa barulheira..?

– Tive filhos e tenho netos!

E foi assim que eu conheci meu vizinho, um intelectual brilhante, escritor consagrado, que foi muito importante na Propaganda, sua área profissional, Emil Farhat.

Nossa amizade prosperou, também por causa de sua filha, de quem fiquei muito amiga. Almoçamos juntos, incontáveis domingos , na casa de sua filha, que aliás, cozinha divinamente bem. Concluí, então, que uma amizade cresce e permanece pela proximidade, frequência e comida boa!

“O País dos Coitadinhos” é um livro do Emil que, apesar de ter sido escrito há 50 anos , continua muito atual.

O título já diz tudo: nossa incapacidade de sermos confiantes, altivos e produtivos. Ao contrário,escolhemos a condição de “coitadinhos”, incapazes , sempre dependentes de uma força maior que seja tolerante com nossa incompetência e desleixo, subjugando-nos e premiando-nos por nossa doce aceitação.

Não se pode mais basear-se em ser o paraíso dos “coitadinhos”. Todos nós, brasileiros, temos que assumir uma atitude madura, nunca piegas, nunca “jeitinhos”, nunca tolerar a preguiça , conversa fiada e a deslealdade.

As ideias podem se transformar em realidade moderna e pujante, se formos corajosos e destemidos.

Tenho certeza de que muitos profissionais , de qualquer atividade, têm capacidade de estudar mais e ter mais responsabilidade no trabalho. Podem deixar de ser “coitadinhos” tutelados e tocarem a vida pra frente. Uma vida pra frente, é uma vida de cada pessoa, e aqui tem um monte de gente, dá para formar um grupo bem grande, capaz de se juntar para resolver seus problemas.

“Coitadinhos” , Ah! não, não dá mais, mas não dá mais de jeito nenhum!