Moro numa vila. Adoro.Sempre gostei de morar aqui, Adoro meus vizinhos, seus bolos, seus chás japoneses, as conversas no fim da tarde… A minha vizinha de parede é uma italiana  que mora no Brasil há  70 anos. Ela é tão bacana que eleva  o preço do m2 da vila!

As vilas começaram a aparecer  no começo do século XX. Não eram comuns até esta época, quando os imigrantes europeus passaram a influenciar  o padrão  de habitação de São Paulo. Foi nesse momento que as  vilas residenciais aparecem nos bairros. Eram construídas por donos de fábricas, para seus operários, construídas para a venda e também para gerar  renda.

Vila Maria Zélia

Uma das vilas mais conhecida foi a Vila Maria Zelia, construída em 1917 por Jorge Street, para dar casas a 2500 funcionários, de sua tecelagem Cia Nacional de Tecidos da Juta. Esta vila era uma verdadeira miniatura das  cidades europeias,e funcionava  como um bairro dentro do Belenzinho. Havia uma capela, escolas para meninos e meninas, armazéns, salão de festas, ambulatório médico, facilidades até então inexistentes em outras vilas.

Esta  fábrica foi vendida, em 1924, para a família Scarpa, depois passou para o governo e em 1931 foi desativada .Foi   comprada, 8 anos depois, pela   Goodyear. Durante esse tempo, os moradores continuaram ocupando as casas, e só passaram a pagar aluguel em 1939 ao IAPI ( Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI) , uma das raízes  do  atual INSS. Em  1968, puderam comprar as casas pelo sistema BNH.

Os  prédios funcionais , as escolas e os armazéns  são, até hoje, propriedade do INSS. A capela é administrada pela Paróquia de São José do Belém. As escolas e o armazém estão abandonados há décadas. As casas  residenciais estão quase todas completamente descaracterizadas.

O nome de Maria Zélia  foi   dado por ser o nome de uma filha de Jorge Street, que morreu muito moça.

A Vila Adelaide,  outra vila interessante ,é um conjunto de 9 casas na parte interna e 2 na externa, construída nas primeiras décadas do século  XX, para a classe média, eram bem amplas.Com a mudança desses moradores do centro para outros bairros, essas casas mudaram de características, tornando-se  cortiços.

Vila João Mendes

Até 1950, muitas casas eram construídas  de forma padronizada, como vilas. Uma dessas, a Vila João Mendes , não seguiu  um padrão  tradicional , com  entrada, identificação e isolada . As fachadas  originais dessas casas  estão relativamente bem conservadas.

E foi numa vila como essas que morou por muitos anos, o cantor e compositor  de música caipira de raiz , Luis Raimundo, o Luizinho . Sua mais famosa e linda canção é “ O menino da porteira”, de parceria com  Teddy Vieira .

Vila em que morou Luizinho

Luizinho iniciou a carreira artística em 1939, formando a  dupla Caçula e Mariano. Depois disso muitos  músicos  fizeram parte dessas duplas, porém  com o nome Limeira, que  ficou inalterado. Luizinho e Limeira se juntaram a uma musicista de primeira: Zezinha que cantava e tocava acordeão muito bem. O grupo fez muito sucesso por apresentar  músicas populares em diversos programas de rádio, cantando sempre ao vivo.Foi chamado ” Trio Orgulho do Brasil”. Com o fim dos programas de auditório, o trio se desfez.

Em 1950 Palmeira e Luizinho foram contratados pela RCA Víctor, onde gravaram inúmeros sucessos  e foram considerados “Os Criadores da Moda Campeira” .

Em 1982, ainda voltaram a gravar um LP com músicas inéditas e mais as regravações de “Menino da porteira” e “Pretinho sábio”, pela Chantecler. Com a morte de Zezinha,neste mesmo ano, o grupo desfez-se em definitivo.

E não é que eu moro na casa que o Luizinho morou? Quanta honra! Pena que seu  talento foi embora com ele! Aqui ele só deixou os tijolos e o  telhado e o meu orgulho de compartilhar o lugar em  que ele criou  tantas músicas famosas!